Hoje, mais um À Lareira Com. Desta vez o autor é Emílio Miranda. Curiosos?
À Lareira Com... Emílio Miranda, autor de
Uma Linha de Torres.
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Mas quem eram
aqueles franceses que todos temiam?
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Comentários sobre o livro
Uma Linha de
Torres
feitos por alguns leitores: Comentário de Cristina Ferreira (Torres Vedras)
O livro foi lido pelos meus filhos, por dois
colegas do meu filho mais velho e por mim... Comentário de João Pedro Baptista (Entroncamento)
Emílio, também já li este teu livro e adorei.
Apesar de ser um livro direccionado para um público mais
juvenil, conforme me disseste, adorei como conseguiste duma
forma bastante harmoniosa e simples, colocar factos históricos
numa história...
bastante quotidiana, o que torna fácil a aprendizagem desses
mesmos factos e agradável a leitura destas 100 páginas que
rapidamente acabaram, sem quase se dar conta. Os meus parabéns,
pois gosto imenso da tua maneira de escrever.
Domingo, 29 de Abril de 2012[À Lareira Com] - Emílio Miranda, autor de Uma Linha de Torres
Bom dia e Bom Domingo.
Hoje, mais um À Lareira Com. Desta vez o autor é Emílio Miranda. Curiosos?
Fale-nos sobre si.
Nasci há
46 anos. E em 46 anos muito há a dizer.
Coisas que não sei até que ponto poderão ser
interessantes para outras pessoas, mas há
uma coisa que tenho percebido que intriga
muita gente: o facto de ser militar; como se
os militares fossem uma espécie de seres
desprovidos da capacidade de imaginar e de
escrever. O que de facto não é verdade. A
literatura mundial está repleta de exemplos
de grandes escritores que foram
simultaneamente militares. Apenas darei dois
exemplos, um nacional e outro internacional:
Campos Júnior e
Lewis Wallace. Ao falar em Campos Júnior,
pretendo lembrar um grande autor de romances
históricos, que está relativamente
esquecido, mas cuja obra merece ser
lembrada.
Nasceu e viveu em Luanda. Recorda esses
tempos? De que modo eles influenciaram a
pessoa que é hoje?
Nasci, de
facto, em Luanda, onde vivi até aos 9 anos,
idade com que vim para o norte de Portugal,
para uma pequena aldeia vizinha de Vila
Real. Dos tempos de Luanda recordo a terra
quente e densa, de cor avermelhada, as
chuvas intensas acompanhadas de trovoadas, o
cheiro das mangas maduras, das goiabas, das
pulverizações sazonais contra as pragas de
mosquitos, levadas a cabo por avionetas, o
gosto doce das bananas bem amadurecidas
(ainda hoje estranho como aqui se comem
normalmente as bananas verdes), com pintas
na casca, as cores garridas das penas das
aves, a majestade dos embondeiros, e mais
tarde a consciência de um mundo a
desmoronar-se, em Berliets apinhadas de
soldados, no som de tiros e em histórias
macabras que passaram a circular, tão
inesperadamente, como se de uma noite para o
dia o mundo se tivesse pura e simplesmente
transmutado.
Mas o
primeiro aroma de que me recordo, e que
marca a minha consciência de ser alguém, é o
de caranguejos a cozer, numa tarde de
sábado, tão intenso e rico de maresia que me
despertou para a vida… Aliás, nunca mais
encontrei noutro local o mesmo cheiro. Tal
como nunca mais me deparei com o cheiro que
o mar tinha em Luanda.
E é esta
consciência de perda, mas simultaneamente de
ter possuído algo raro, que hoje me diz, a
cada passo, que tudo pode ser mágico, mas
que é certamente efémero…
Por
último, não sei se o facto de ser militar
tem que ver com a minha experiência de
guerra, nos últimos meses, em Angola.
Porventura…
“É o contacto com esta realidade, naquela
época difícil, mas mágica, de espaços
abertos no Verão e horizontes fechados nos
longos Invernos, com montes e vales cobertos
de névoas e geadas, feita essencialmente de
granito e tão diferente daquela deixada para
trás, que definitivamente o vai marcar.” De
que maneira este contacto o marcou?
Esta
referência é feita à aldeia para onde fui
viver, de onde o meu pai era natural. Uma
aldeia, recentemente elevada a vila, que se
chama Lordelo, onde descobri que quase tudo
o que sabia até àquela altura era
praticamente nada. Havia uma noção de perda,
de repente descoberta, e uma noção de
descoberta completamente inesperada em
montes, no interior escuro de minas de água,
à sombra de muralhas, em carreiros apertados
entre muros altos de granito: um mundo
mágico, muito diferente daquele que deixara
para trás. Novas tarefas quotidianas, como a
de ter de ir buscar água à fonte ou a de ter
de apanhar lenha para os longos meses de
inverno, bem como de acartar molhos de
caruma, para acender o lume e atapetar as
lojas onde às vezes havia animais. Essa
consciência começou a abrir novas gavetinhas
no interior da minha mente, porque de facto
aprendemos com o que é novo e havia
subitamente tantas coisas novas na nossa
vida…
Como foi vir de Angola e deparar-se com a
televisão? Que impacto teve isso na altura,
para si?
A
televisão foi, na verdadeira acepção da
palavra, uma janela mágica que se abriu para
mim. Mostrou-me que o mundo tinha ainda mais
diferenças do que aquelas que já me pareciam
superiores à minha capacidade de
entendimento. Nas grandes séries de guerra,
ficção científica, históricas, nos
documentários e filmes de desenhos animados
percebi que havia um passado e um futuro,
uma capacidade de contar o que já tinha sido
e o que ainda podia apenas ser imaginado, o
que é nada mais, nada menos, do que a génese
da escrita, enquanto suporte intemporal da
nossa identidade.
Quando e como começou a sentir o gosto pela
escrita?
Antes da
escrita, veio o desenho. Desenhava tudo o
que via, sobretudo super-heróis, que até
então não fazia a mínima ideia que pudessem
existir, mesmo na imaginação de alguém.
Os
livros, que sempre tinham estado na minha
vida, eram-me estranhos, porque me pareciam
ter demasiadas letras e poucas imagens. Por
isso reparava mais nas capas, nas cores e
nas ilustrações. Até que percebi que aquela
imensidão de letras contava histórias…
Numas
férias de verão, com 14, 15 anos, li o meu
primeiro livro e foi um fascínio imediato
que nunca mais me abandonou. A partir dessa
altura, passei a amar os livros nunca mais
deixei de ler …
Como surgiu a ideia e a oportunidade para o
seu primeiro livro?
O meu
primeiro livro, enquanto unidade literária –
com princípio, meio e fim –, que continua
inédito e provavelmente manter-se-á como
tal, é uma espécie de história de ficção
científica que narra a última batalha
travada pelo homem. Uma história cheia de
referências mitológicas, logo patente no
próprio título: A Última Vinda de Marte,
Deus romano da guerra. Nesse livro, escrito
de forma apaixonada, tudo foi objecto da
busca da perfeição; foi com ele que
primeiramente me apercebi do valor das
palavras, da diferença de entoações e de
significados. Foi o meu primeiro exercício a
sério de escrita. Quando o terminei, senti
que era um escritor, que era isso que
desejava fazer a partir dali.
Foi então
que comecei a pensar em escrever uma
história sobre a fundação de Vila Real, na
verdade um livro que pretendia ser uma
viagem à época medieval, tão apreciada por
mim.
No
entanto decorreram mais de 20 anos até que
conseguisse concluí-la, o que aconteceu em
2008. Em pouco tempo apareceu uma Editora
interessada em publicá-lo, o que ocorreu no
ano seguinte.
Foi publicado recentemente o seu mais
recente livro “ Uma linha de torres”. Como
surgiu a ideia para este livro?
Este
livro foi o resultado de um desafio.
Tratava-se de escrever um livro juvenil,
acerca das linha de Torres Vedras, destinado
a ser publicado durante 2010, quando foram
celebrados os 200 anos das linhas de torres.
Inicialmente, resisti à ideia, porque não
julgava ser capaz de escrever algo que não
surgisse da mesma forma espontânea como têm
surgido todos os meus livros. Porém, no
final do dia, já tinha as linhas principais
da acção e as personagens que lhe dariam
vida. Escrevi-o apaixonadamente e em pouco
mais de três semanas ficou concluído.
O que nos pode dizer sobre o mesmo, de modo
a aguçar-nos ainda mais a curiosidade e a
vontade de o ler?
Foi o
livro mais planeado que escrevi até hoje.
Defini parâmetros que tinham que ver com a
dimensão, a linguagem e a facilidade de
contar uma estória sobre a história que
pudesse ser lida de forma apelativa por
jovens que certamente nada sabiam dessa
época tão conturbada, que foi a das Invasões
Francesas e da nossa resistência, como povo.
Tal como faço tenções de lembrar, sempre
fomos um povo de resistentes e sendo a
resistência o primeiro passo para a vitória,
então somos naturalmente vitoriosos. A nossa
história está repleta de exemplos. É
importante não esquecê-lo, todos os dias e,
mais importante, relembrá-lo.
Qual é a importância da escrita na sua vida?
Não se
trata de uma questão de respiração, nem de
alimento para o espírito, mas de uma
necessidade sem hora que me visita todos os
dias, com maior ou menor intensidade…
Escrevo, reescrevo, imagino coisas que vou
escrever… Gosto de o fazer, tal como gosto
de ler, numa busca constante de novos
conceitos, novas formas de refundir velhos
conceitos, no fundo numa relação apaixonada
com as palavras, com o que elas escondem,
encerram e desvendam, quando sabemos «falar»
com elas… Pois é disso que se trata: de um
namoro permanente entre a minha natureza de
escritor e as palavras. As palavras são
seres vivos, cheios de vontades e de
caprichos…
Tem algum projecto literário em mente para
um futuro próximo? Se sim, pode adiantar-nos
alguma coisa sobre o mesmo?
Tenho
vários. Tenho sobretudo coisas escritas que
desejo ver publicadas. Mas gostava de
escrever sobre a Barquinha, um grande
romance histórico, que está começado e que,
em nome de outras coisas se encontra parado
de momento. Mas quero muito recomeçá-lo…
Bom, e gostava de escrever acerca dos
Templários…
Por fim, deixe uma mensagem para os nossos
leitores, que são fãs incondicionais de
livros.
Os livros são janelas abertas para a nossa
imaginação, corredores de acesso a outros
tempos e lugares. Ler um livro é ter o
prazer de realizar uma viagem, ou várias
viagens, dentro de nós mesmos, viajar no
tempo e no espaço, sem sairmos do mesmo
lugar. Termos consciência disto, bom, julgo
que é algo que nos faz pensar no quanto
somos privilegiados quando abrimos um livro
e nos deixamos levar pelas palavras de quem
o escreveu.
Obrigada, Emílio Miranda.
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Contacto de Emílio Miranda: autor@emiliomiranda.com |
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Este site foi actualizado pelo última vez em 17/06/13