Home
O autor
Agenda
Romance
Conto
Poesia


 

 

 

«Heitor tinha apenas dez anos e na alma o mesmo frio que lhe enregelava o corpo; os pés descalços estavam roxos e os dentes tiritavam como castanholas, enquanto ele fitava o seu senhor escarranchado sobre o cavalo, a armadura posta sobre uma grossa túnica de lã, os pés envoltos em botas de cabedal fino, protegido contra as espadeiradas pelas caneleiras reluzentes. Fitava o seu senhor sabendo que teria de o seguir, fosse ele para onde fosse, carregando-lhe as armas e atendendo aos seus pedidos, mal fossem sequer pensados. Para ele, tudo aquilo era novo; menos o terror que lhe apertava as entranhas, aquele medo que toda a criatura deve sentir quando se encontra perante a morte, ou pelo menos perante a possibilidade pensada de ela ocorrer.»

... / ...

«Heitor fungou e depois limpou o pingo que teimava em cair-lhe do nariz, com a manga da camisa esfarrapada. As mãos roxas apertaram com mais força as armas do seu senhor e, de repente, o odor a urina e esterco irrompeu-lhe pelas narinas, lembrando-lhe o medo dos homens e a ansiedade dos animais. Os pobres diabos sabiam, como as criaturas que os montavam, que o momento de alguns morrerem estava próximo. O momento de urrarem, esfacelados por cutiladas, trespassados pelo ferro de lanças e espadas, por hastes emplumadas de flechas cegas mas certeiras. O momento de se tornarem de novo pó.

Em silêncio, os homens encomendavam as suas almas ao criador.»

 

 


Comentários sobre o livro de névoa e de vento feitos por alguns leitores:

As Leitura da Fernanda (http://as-leituras-da-fernanda.blogspot.pt/2012/09/de-nevoa-e-de-vento-de-emilio-miranda.html )

Como sou uma ávida leitora, não consigo andar sem ter um livro sempre atrelado a mim. Ora acontece que o livro que ando atualmente a ler é ligeiramente pesado, por isso, quando vou a qualquer lado onde sei que não me vou demorar muito, opto por levar uma companhia mais levezinha para me entreter, tipo nas filas de trânsito, supermercado, ou na sala de espera do dentista. ;)

Esta semana que passou, a minha companhia mais levezinha foi esta.

“De Névoa e de Vento” é um conjunto de contos escritos de forma sublime por um autor português, Emílio Miranda. Já ouviram falar? Pois então descubram-no, porque é um autor que vale mesmo a pena ler.

Uma das coisas que mais me tocou é a maneira como Emílio Miranda consegue transmitir na perfeição os cenários que compõem as suas histórias. Tanto nos transporta para um cenário de guerra, onde o cheiro a sangue se mistura com o pó levantado pelos cascos dos cavalos e o sabor a medo nos passa pelos lábios, como nos consegue pousar gentilmente num campo ponteado pelo orvalho, junto a num pomar efervescente de sons, cheiros e sabores. Extraordinário, mesmo.

Como acontece nos livros de contos, há uns dos quais se gosta mais do que outros, mas por incrível que pareça, neste “De Névoa e de Vento” quase não consigo destacar um conto. Existe uma certa consistência na escrita de Emílio Miranda que torna difícil esse destaque. Talvez o conto que dá nome ao livro me tenha tocado um pouco mais. Romântica como sou, não é de admirar… ao fim e ao cabo é uma história de amor.

“De Névoa e de Vento” foi um bom cartão de apresentação de Emílio Miranda.Estou ansiosa por pegar num dos outros livros deste autor português – “A Princesa do Corgo” e “Uma Linha de Torres” já estão na minha estante. :)

Contacto de Emílio Miranda: autor@emiliomiranda.com

 

O Autor | Poesia | Conto | Romance | Agenda

Este site foi actualizado pelo última vez em 16/08/15