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O espaço une-se com dois pontos; o vazio com dois encontros!

Muitos dirão que o progresso se faz à custa de muitas vontades; mas as vontades não arrebentam com penedias, nem cravam estacas no leito de rios (...), só mesmo a teimosia.

Ou talvez haja vontades e teimosias. Dizem os mais simples que el-rei e os seus engenheiros tiveram a vontade e os operários a teimosia. Talvez sem umas e outras nada verdadeiramente se fizesse, e todos tenham razão nas suas teimosas vontades.

 

 

 

 

 

 

Comentários sobre o livro Os Autos da Barquinha feitos por alguns leitores:

Comentário de Fernando Freire (Vila Nova da Barquinha)
http://atalaia-barquinha.blogspot.pt/2013/12/os-autos-da-barquinha-gelo-por-sal-de.html


 “Tagus, Tejus, Tejo.
Muitos nomes, um mesmo rio.
Fenícios, Cartagineses, Romanos e Árabes rasgaram as suas águas, fazendo dele uma estrada de eleição…
A história do Tejo é uma história milenar de que a maioria dos mortais apenas pode fazer vagas suposições, muitas delas baseadas no saber adquirido pela experiência de ver os elementos a interagirem com o rio e com a terra. Ao longo de séculos, os homens sulcaram as suas águas, fintado a sua braveza, servindo-se do obstáculo que constitui para definirem fronteiras e barreiras contra exércitos, inimigos ocasionais e todo o tipo de perigos, alguns mesmo imaginários. E esse conhecimento dá-lhes às vezes a ilusão de que o compreendem, de que conhecem as suas manhas, mas a verdade é que a vontade do Tejo e os seus caprichos são insondáveis
.”
Será verdade que o caminho-de-ferro viria para ditar a morte do rioTtejo?
Para descobrir o encantamento deste livro é fundamental quer recuemos no tempo.
O Tejo era a fronteira. Dum lado começava o norte e do outro iniciava-se o sul. Daí a nossa região estar marcada por fortalezas militares singulares (Ozezere, Almourol e Cardiga) marcadas por um intercâmbio dominado na faina fluvial pelas embarcações. O Tejo sempre foi além de fronteira natural, um corredor de comunicação entre as terras altas e as terras baixas.
Ainda hoje, em Vila Nova da Barquinha, se podem vislumbrar os antigos poiais e escadas, sempre mais altos do que o normal curso de água para evitar a sua entrada no interior dos armazéns. A zona do Centro Cultural é a que mais confessa sobre a vida antiga do núcleo urbano barquinhense, local onde se privilegiou o comércio, a sua união com o rio, as suas vivências e até as suas cheias. É neste quarteirão que se perpetua os vestígios da nossa história cunhada de arquitectura e de urbanidade.
Neste quarteirão podemos vivificar as lajes de pedra calcária guarnecendo os pavimentos dos pisos térreos, vestígios da adaptação local à vivência das inundações que, frequentemente, e com a sua adversidade nos invadiam. Cheias que eram uma bênção, pois com a fertilização dos campos nasciam os denominados “nateiros” nos quais se produziam abundantes cereais e produtos hortícolas.
Neste espaço urbano os pisos térreos eram ocupados com armazéns e comércio, quase sempre ligados à faina do rio. Os fluxos comerciais entre as Beiras, e Lisboa faziam-se, principalmente, pelo rio, levando e trazendo permanentemente produtos que aqui eram transbordados, comercializados e levados do e para o interior dos territórios adjacentes, como é exemplo o sal, o azeite, as madeiras, a retrosaria, o gelo etc.
 O gelo - amontoada em pequenos montículos será depois acartada em cestas, às costas, até ao poço de gelo mais próximo. Nada é deixado ao acaso, para que o gelo resultante seja da melhor qualidade. Limpo, cristalino e sem impurezas. Liberto de gostos e dissabores …
Há que arrebanhar a maior quantidade possível de neve enquanto se mantém solta e límpida, e depois guardá-la naquelas cavidades profundas, onde será compactada até se transformar em gelo. Tapado por palha e fetos, o gelo permanecerá ali até ao final da primavera, início do verão, altura em que será então cortado em grandes blocos e transportado em carros de bois, pela serra, até Constância e Barquinha de onde embarcará em barcaças, rio abaixo, desta feita até Lisboa, aos armazéns do Martinho da Arcada, e outros de menor nomeada, para deleite de senhores e senhoras”.
O Sal - Os soldados romanos chegavam a ser pagos em sal, de onde vêm as palavras “salário”, “soldo” (pagamento em sal) e “soldado” (aquele que recebeu o pagamento em sal). Na Idade Média o sal era conhecido como “ouro branco”. Ouro por ser o tempero mais usado nos alimentos. O sal vinha da foz do rio Tejo.
Descarregado o gelo, e de modo a rentabilizar o frete, é carregado o sal, chegado das salinas vizinhas da capital, sobretudo de Alcochete, onde é de excelente qualidade,
rumando desta feita até ao interior do reino, acondicionado em sacas de serapilheira nos porões das mesmas barcaças
…”
Era um dos produtos mais comercializados cujo topónimo deu nome à nossa Rua do Sal, aqui mesmo ao lado. Sabe-se que na Rua do Sal existiram dois importantes depósitos, um no edifício da Família Pereira e outro no edifício da Família Condeço.
Há a magia de uma história que nos narra a presença dos franceses na 1.ª invasão, a sua passagem pelo Zêzere e a chegada a Tancos.
A sua obra está cheia de obscurecidas personagens, plena de sentimento de pertença e intemporalidade.
O percurso ficcional e verídico dos acontecimentos interligam-se com o humanismo e o sonho das suas personagens, desde as trincheiras nas terras da Atalaia até à fuga de barco para o outro lado do Tejo, para os lados do Arrepiado, ou dos amores dos homens do rio.
Desde o retrato da Vila de Tancos, à época, com o apogeu comercial em contraste com os armazéns vazios aquando da chegada dos franceses que tudo pilham.
 
… Não esquecem os mais velhos as histórias que falam do tempo em que ao Arripiado se refugiaram os da outra banda, quando os franceses invasores chegaram a Tancos para pilharem e incendiarem teres e haveres; abominável realização, a da guerra. Melhor seria se a cobiça se transformasse em festa e a fraternidade em alimento da alma. Àquele rossio acodem diariamente dezenas de carros e carroças, puxados por mulas, cavalos e juntas de bois em busca do que se torna necessário nas povoações do interior, e que chega em embarcações que sobem e descem o rio: as provenientes das terras altas cruzam-se muitas vezes com as que chegam de Santarém, Vila Franca e Lisboa. Mercadorias passam de mão em mão, são carregadas e descarregadas, transacionadas enquanto o diabo esfrega um olho. Notícias e rumores circulam: o rio é um pasquim, e, o mundo, um circo, um local mágico de invenções e exageros”
Emílio, narra-nos a parte violenta, a chegada dos Franceses à Barquinha. Aqui vão encontrar a resistência possível. Em ficção, coloca barquinhenses de hoje, no tempo das invasões francesas. Homens de Atalaia com afectos e histórias de vida, com sentimentos de dor, de suor e de lágrimas, que vêm a chegada do invasor que tudo assola: os sonhos, as terras e o próprio sustento.
O drama de Benilde, a filha do moleiro, que se apaixonou pelo invasor francês e que, descoberta a relação amorosa de ambos, veio o seu amado a ser chacinado pelo povo de Tancos.
O mistério das Mortes Ramiro e Roberto, que afinal incomodam muita gente!
A relação do médico Dr. Ambrósio com a Rosa-dos-Ventos, a curandeira, as tascas, os caminhos, as fontes e as pontes.
Prende-nos à narrativa a dinamismo das personagens. Uma linguagem singela onde os valores morais de alguns personagens alcançam crueza intemporal. É um romance emocionante, intuitivo que nos absorve e nos ensina a respeitar, ainda mais, os nossos antepassados e nos dá a conhecer a dureza dos trabalhos no rio. A construção da Ponte da Praia do Ribatejo, a primeira ponte ferroviária do país, no tempo de el rei D. Pedro V. A obra atrai-nos às lembranças dos nossos antepassados, às velas brancas, esvoaçando pelo límpido rio Tejo abaixo, em cujas margens, cobertas de canaviais, acena um alto bosque de choupos pretos. Recorda-nos a grande azáfama e atividade da Vila onde ecoavam os sons dos malhos de construção de barcos e os ásperos berros dos barqueiros, a confusão  dos atos de comércio onde homens se apinhavam, os pequenos barcos na margem, as mercadorias que iam embarcando para o fornecimento de Lisboa, as mulheres a lavar à beira do rio.
Gelo por Sal
Tantas histórias e tantas memórias!

Comentário de Carlos Manuel Barbosa Ferreira
http://pinhallameira.blogspot.pt

“Gelo por Sal”. Foi esta expressão ouvida a um amigo  que   deu o  mote à escrita de  Os Autos da Barquinha, como refere Emílio Miranda.
Como os menos conhecedores da história regional se aperceberão ao longo da leitura, este eram dois dos produtos que alimentavam o negócio dos marítimos que habitavam as zonas ribeirinhas de Vila Nova da Barquinha e Constância. E este é um livro sobre eles e as gentes da beira-rio.
O romance, que não se assume como histórico, situa a narrativa durante os trabalhos de construção do troço da linha do Leste que ligaria Santarém a Abrantes (1860 – 1862), ancora-se em factos coevos da história, da memória oral das Invasões Francesas e da mística presença templária, com o respectivo tesouro incluído. O autor, no entanto, enfatiza a ficção, e diz-se apenas utilizador do cenário que lhe é oferecido pela paisagem, pelo património edificado e pelo rio.
É um romance construído em torno de personagens que, na sua individualidade, se cruzam por imposição da faina fluvial. Todas têm algo no seu passado que lhes molda o carácter e condiciona o pensamento e a acção: uma traição, uma tragédia, uma desilusão. Carregam-no consigo, sem que consigam afastar. Por isso não são felizes. Vivem e convivem na tristeza, na tragédia e na pobreza, como se tudo fosse uma fatalidade do destino.
Como se o movimento do rio, a viajem dos barcos e os tempos de permanência e de ausência não permitissem a tranquilidade, a serenidade e a felicidade dos espíritos. Era assim desde que possuíam memória.
Era este destino que a chegada do comboio ameaçava. Por isso, na angústia pela incerteza do futuro, havia espaço para a esperança. E assim o romance ficou em aberto para outras personagens lhe darem continuidade, tendo como pressuposto que o curso da história se estava a alterar.
Teria sido realmente assim? A Emílio Miranda pouco importa. Esta foi a realidade que criou. Se há datas, estatísticas e documentos que precisem como foi? Há. Mas contam outra história. Que também é importante: a do colectivo.  Mas, apesar de já ter escrito, e justificado cientificamente, um pouco sobre ela, estou em crer que não é a mais verdadeira. Não é difícil de perceber que se a História conta a vida de todos, não é menos verdade que cada um um a viveu a sua. Implacável. Alternado o altruísmo e a solidariedade com a vingança e a briga de navalha na mão, o amor e o desengano. É por isso que recomendo a leitura de Os Autos da Barquinha. 

Contacto de Emílio Miranda: autor@emiliomiranda.com

 

   

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Este site foi actualizado pelo última vez em 05/03/14